quinta-feira, 4 de setembro de 2008

A Arte de Ler





A palavra que eu leio (lego: colho), na sua ingrata renitência sobre a página do livro, desafia-me como a pergunta da Esfinge. A resposta pode variar ao infinito, mas o enigma é sempre o mesmo: o que quero dizer?

Ler é colher tudo quanto vem escrito.

(Alfredo Bosi, A interpretação da obra literária.)




Falar de leitura é falar de experiência. Cada leitura é uma nova experiência. Cada nova experiência se transforma, então, em frutos que vão se amadurecendo na medida em que damos sentido para ele em nossa vida. Ainda crianças, admiramos a grandeza do mundo, nos emocionamos com a infinidade de coisas que nos são apresentadas; entretanto, quando nos encontramos com a literatura, embora não saibamos seu significado, ficamos intrigados com um mundo maior do que aquele em que vivemos; entramos em um mundo misterioso e é esse o sentido que damos ao mundo do livro.

Minhas primeiras leituras foram recheadas de figuras que me ajudavam a divagar no imenso mundo imaginário da literatura. Por mais que eu não compreendesse muito bem o que as letras significavam, o livro, ou melhor, a literatura em si ganhava um sentido em minhas mãos e, então, a história acontecia. Não me recordo de uma história sequer que eu tenha lido, mas eu me lembro da sensação que eu tinha toda vez que eu abria um livro. Era como se uma nova realidade se construísse na medida em que eu ia significando as letras e as gravuras. Eu adorava estar com um livro nas mãos, era uma sensação bastante agradável (e até hoje essa sensação é despertada em mim toda vez que eu abro um livro de literatura).

Com o passar do tempo e meu desenvolvimento intelectual, minhas exigências literárias foram se transformando. Passei pelos contos infanto-juvenis, pelos romances infanto-juvenis (até aí, somente autores brasileiros); descobri, então, os romances de aventura, os policiais e os autores estrangeiros. Agatha Christie ocupou por um bom tempo minhas preferências, Conan Doyle também passou pelo meu gosto. Experimentei os romances russos (me agradaram); tentei Dostoievski, mas era cedo demais; e, assim, minhas leituras passaram a ser bem variáveis e eu procurava sempre um estilo inédito. Então, me encontrei com os clássicos brasileiros. Sem dúvida, foi uma das melhores experiências que eu tive na vida. Foi quando meu gosto pela literatura se acentuou e eu comecei a experimentar os livros contemporâneos, sempre variando nos estilos.

A literatura entrou na minha vida bem cedo e eu sou muito grato por isso ter acontecido. Uma experiência com a literatura é a experiência que todos, desde os infantes até os mais maduros, necessitam. O problema é que nem todos conseguem ver essa necessidade. Muitos acham que os livros alienam as pessoas. O que elas não sabem é que a literatura nos ajuda a compreender e perceber o mundo a nossa volta. É claro que uma criança não vai chegar a essa conclusão ao ler um livro, mas, após lê-lo, a criança constrói em sua mente uma percepção/compreensão do mundo que a rodeia comparando-o àquele mundo que ela encontrou na literatura.

Sempre dediquei parte do meu tempo à leitura de uma boa literatura, e, isso, graças ao desenvolvimento “precoce” do costume da contínua descoberta do mundo. Hoje, o que me impulsiona ler mais é o fato de que a cada leitura eu vou me construindo. Cada experiência me faz apreender o mundo real e, ao mesmo tempo, me leva para longe dele. Mas é justamente aí que está, para mim, a função primeira da literatura (não necessariamente a mais importante): fazer-nos reconhecer nosso mundo através de outra dimensão, de outro, digamos, cosmos. Somos levados a um mundo paralelo para que possamos conhecer, no sentido mais simples da palavra, o mundo real. Isso pode soar um tanto místico, mas é justamente assim, misteriosa, que a literatura me aparece.

“Ler é colher tudo quanto vem escrito.”. Ler é perceber o mundo nas letras. É se conhecer e se construir. É se colocar no mundo. É uma experiência indescritível e única. Por mais que tentemos descrever uma experiência de leitura, nunca conseguiremos descrever a verdadeira sensação que a literatura nos causou naquele momento, e, ainda, por mais que leiamos a mesma literatura que lemos ontem, ela não é a mesmo e, principalmente, você não a reconhece como a mesma. Ler é uma arte, única e irrepresentável.

4 comentários:

  1. Numa rede de Leitura!

    Adorei o nome!

    E também adoro viver cada esperiência de ler, de entrar em contato com mundos Inimagináveis , mágicos. Poder ser o que quiser. Viajar! Sonhar! Dar asas a imaginação. A arte de ler é algo que convida. Você não precisa ser nenhum gênio ou artista. Só precisa
    se libertar e navegar em redes de leituras.

    Vou voltar sempre!

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  2. Oi, jairo. gostei muito do seu texto, vc falou de dentro do seu coração. Também gostei dos desenhos e fiquei pensando se vc se parece com a foto do perfil. è o S. Dali? Só achei um pouco pesado o fundo preto, dificulta a leitura. Boa sorte. Vou visitar vc de novo. Clara.

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  3. Jairo, conheço seu texto, não e´mesmo? E vc sabe que sou fã dele! Continue escrevendo!

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  4. Parabéns...ótimo texto, ótimo layout, ótima estruturação. Sou suspeita pra falar, pois gosto muito de cores escuras e achei o seu blog de uma sofisticação sem tamanho. Sobre o texto...100% ótimo...merecedor de muitos elogios mesmo.
    Um abraço

    Débora

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