
É um das sensações mais difíceis de se compreender. É o sentimento mais nobre do homem. É imensurável e infinito. Não temos uma definição exata dele. Camões disse que ele é “contentamento descontente”; Paulo, o apóstolo, o exaltou sobre a fé e sobre a esperança, sobre todos os dons e a declarou acima dos anjos. Mas a metáfora mais bela acerca dele é a que o apóstolo João declara: “Deus é amor”.
Poderíamos soltar aqui essa frase e deixar que o leitor reflita sobre essa metáfora. Uma metáfora simples, mas tão complexa e tão bonita que me arrancará algumas linhas. Ela se aproxima daquela outra, também muito conhecida, que diz que Deus é a essência do amor; mas é maior que ela. “Deus é amor” nos diz que o amor é essencial para a vida, o maior de todos os sentimentos. Diz-nos que o amor é um sentimento transcendental.
Quando dizemos que amamos uma pessoa, na verdade, estamos dizendo àquela pessoa que ela faz parte da nossa vida, que ela é importante para nós, mais que nós mesmos. Amar é renunciar a si mesmo, viver em prol do outro. É estar ao lado nos momentos alegres e tristes. É se compadecer, suportar, auxiliar. O amor é, ainda, o sentimento que mais contraditório, pois, se amamos, sofremos; mas, ao mesmo tempo, nos alegramos com esse sofrimento, porque sabemos que no final está a felicidade.
Mas sabemos recitar de cor e salteado essa definição utópica(?) do amor. Vamos à realidade. Em pleno século XXI, como o amor é praticado. Será que ele continua o mesmo? A resposta é clara e óbvia: não. É impossível afirmamos que hoje o amor é concebido da mesma forma que nos séculos passados. Com o tempo tudo muda, nada é como era, nem será como é. Hoje a vida agitada e sempre atrasada impede que amemos com a mesma intensidade que amaríamos se vivêssemos no século passado, por exemplo. O amor está nas músicas, nas poesias, nos romances e até nas novelas e programas diversos da TV, mas não o praticamos. Contentamo-nos com a teoria e não nos esforçamos na prática.
Praticamos algo que achamos que é amor, mas se aproxima muito da idéia de ‘consideração’. Consideramos uma pessoa, a achamos legal e interessante, então nos iludimos com a idéia de que a amamos. Alguns sabem que não amam, mas ficam (em todos os sentidos) com uma pessoa porque não quer ficar sozinho, enquanto seus amigos todos têm uma companheira. O amor se tornou conveniência. Não precisamos amar verdadeiramente uma pessoa para dizer que a amamos. A sociedade perdoa essa hipocrisia, pois reconhece que não há tempo para esperar um verdadeiro amor. Assim, saímos a procurar alguém que se encaixe em uma idéia de pessoa boa para ser amada e nos entregamos a esse pseudo-amor, o amor moderno.
Mas, mesmo se ainda não encontrarmos tempo para procurar alguém legal, não nos aflijamos. Há alguém capaz de encontrar a pessoa ideal para nós. Basta digitar algumas características e pronto, uma lista com vários nomes nos aparece. É só escolher um deles e torcer para que aquelas informações ali depositadas sejam verdadeiras. É o comércio do amor. Você vende seu amor, ou compra o dos outros. Mas o pagamento não com dinheiro. Você paga com seu tempo (preço mínimo); alguns acabam pagando muito mais caro, com sua ignomínia, às vezes até com a própria vida. Estes são os que não souberam escolher bem o produto e acabaram sendo lesados, mas não encontram nenhum PROCON onde reclamar a propaganda enganosa.
A Internet é uma arma perigosa. Ela ajuda muito, sem dúvida, mas temos que saber utilizá-la com cuidado e competência. Na matéria do amor ela se diz profissional. Alguns acreditam e depositam nela toda a confiança de uma boa transação sentimental. Outros desconfiam, mas acabem cedendo. Há uns poucos que sabem que não é isso que precisamos e se lançam na busca sozinhos.
A sociedade não sabe mais, ou não quer mais saber, amar. Nossas relações interpessoais estão ótimas, para quê complicar mais?! O amor nos faz bobos e inofensivos. Perdemos a ferocidade necessária hoje. Tornamo-nos mais mansos e compreensíveis. O amor nos eleva à condição de seres emotivos, fazendo-nos perder um pouco da racionalidade animal (não no sentido pejorativo). O amor nos torna mais humanos.
Amei a foto!
ResponderExcluirNossa! Fiquei muito feliz ao ler seu texto.
Também acredito que " amar é renunciar a si mesmo, viver em prol do outro". Quando conseguimos pensar nos outros e não em nos mesmos, vamos ser muito mais felizes, por sabermos que podemos ser úteis para alguém e por podermos viabilizar a alegria na vida dos outros.