terça-feira, 8 de junho de 2010

Desejo da alma

Eu juro que tentei, fiz o possível, mas me arrisquei e me doei sem restrições. Ofereci-me e nem um suspiro dei. Perdi minhas cores. Perdi meu corpo. Perdi-me. Mas o que você fez com o que era seu... Não entendo por que seu cheiro ainda me confunde, ainda me emociona. Seu suave toque é meu veneno. E você sabe, eu não sou capaz de resistir a seu lascivo sorriso. Nunca tive coragem de fugir desses terríveis tentáculos anis, repletos de sonhos e desejos, mas esvaziado de toda ternura e compaixão.

Eu sei que a culpa é minha. Sempre ansioso pela fria e soturna noite. Não me agrada o calor sufocante do sol. Já te havia confessado minha atração platônica à sensualidade da lua, à falsa cumplicidade das estrelas. Aí está minha loucura: apaixonar-me como se estivesse amando. Se pudesse ser como você... Tudo o que sente é o prazer das coisas. Até na morte, a carnal, você diz encontrar alento. Feliz, sempre te encontrei. Nunca uma lágrima de desengano vi acariciar sua impossível face.

Mas nossos dias foram avassaladores. Amamo-nos como se não houvesse mundo. Não havia manhãs ou tardes. A lua foi nosso esconderijo. Nas estrelas escondíamos nossos segredos. Sabíamos o risco. Ao menos você tinha consciência dele. Eu... Esqueci-o. Mais vale que não me lembre do que não posso enfrentar. Este meu labirinto eterno.

E as noites se tornavam dias, manhãs, tardes. Já não desfrutávamos da doce brisa da madrugada. Percebi que, então, já não era o mesmo. Eu, o amor... Você. Quando se viu perdido em meu labirinto, desesperou-se. Não se deu conta de que apenas avistara a silhueta, ofuscada e longe, de mim mesmo. Não sabe que apenas se aparenta monstruoso, mas, na verdade, busca sua essência? Você era a minha essência.

Agora seu corpo não reclama, não está amedrontado. Sua alma escorre aos meus pés. Você tinha razão, por dentro somos todos aquecidos. É tão bonito o que vejo: a imensidão do azul de seus olhos, a alvura de sua pele e a intensa cor escarlate de sua alma. Finalmente, você me pertence como eu sempre pertenci a você.

2 comentários:

  1. Eu não sei o que dizer. Somente posso falar que me surpreendo a cada texto seu que leio. Gosto de ler para me distrair e apaixonar.

    ResponderExcluir
  2. ... pela vida, pelas palavras, pelos poetas, pelo ar que respiro. E, por Deus, que me permite escrever agora tal comentário. Saudade.

    ResponderExcluir