quarta-feira, 6 de junho de 2012

Minha vida de volta


Viver já não é mais tão divertido. Em meio a prazeres, improvisos e imprevistos, sempre surge a obrigação de ser adulto. As horas voam e eu não me posso perder nas nuvens. O relógio já denuncia meu atraso. 5 minutos. 10 minutos. 15 minutos. Mas eu só queria ter um pouco mais de tempo para ouvir a música. Crescer é chato. Ter que cumprir prazos é viver na eterna sanidade. Estabelecer metas é acabar com a aventura. Crescer é deixar de ser louco. É ver-se transformado em uma pessoa urbana. Não, não são pessoas: números, estatísticas, engrenagens... Crescer é deixar de ser humano.

Quando ainda minha preocupação era qual lençol daria a melhor cabana, não me importava em ser louco. A felicidade era fácil. Amigos conheciam-se todos os dias. Inimigos... Nem lembro se algum dia tive algum. Quando ainda podia perder meus ouvidos no canto do pássaro, o mundo era mais engraçado. As pessoas me olhavam e sorriam. Eu era notado. Frio e calor eram a mesma coisa: brincadeira. Dentro ou fora de casa.

As lembranças são as únicas que não me abandonaram. Todo o resto foi-se com o tempo. Sorrisos, olhares, paixões, amores, abraços. Tudo ficou perdido em algum lugar da infância. Não voltam. Não querem voltar. Talvez, não queira que voltem. Tive que quebrar o encanto. Conheci o mundo. Esse a que chamam vida. E o meu mundo, aquele verdadeiro, entrou para os livros que eles chamam de estórias, fantasia, ficção. Mas eu juro que é bem real.

Não pode fazer falta. Não posso querer voltar para lá. Afinal, cresci. Não tenho tempo para babaquices. E ainda há os que dizem que, enfim, sou maduro. Maturidade é rir da idiotice dos outros e repeti-las para que eles riam de você. Agora tenho preocupações, de fato, reais. Mas o que realmente importa é se vou sentir aquele aperto no coração ao vê-la, se vou sentir palpitações se ela pegar na minha mão, ou se nossos olhos vão se encontrar. O que importa é se a lua vai se mostrar hoje ou se vai se esconder atrás das nuvens.

Não queria crescer. Ninguém me perguntou. Só cresci e pronto. E agora? Agora só me resta a saudade... A saudade e a esperança... A esperança e a malandragem. Não vou ser adulto. Vou sair desse jogo, cansei dele. Prefiro a loucura e a sabedoria da infância ignorante. Não preciso ser entendido, quero é sentir o cheiro do azul do sol na tarde de inverno. Que as flores me beijem pela manhã e, assim, eu carregue comigo durante todo o dia seu sabor. Quero que os pássaros venham me confessar seus segredos para que eu cante um bolero à beira do mar.

Vou voltar a viver.

E ai de quem tentar me impedir: que os abomináveis homens da neve o enterre nas dunas místicas do Saara...

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