terça-feira, 23 de setembro de 2008

A Árvore


Olho pela minha janela e vejo, como num quadro, uma única árvore; sozinha, única. A copa é a única coisa que consigo ver, mas eu sei que além das folhas existem os galhos, o tronco e a raiz que constituem essa árvore. Ela não é muito grande, por isso uma leva brisa consegue balançá-la toda, fazendo-a um corpo vibrante que dança ao som do vento. É, naturalmente, um ser inerte, mas, quando começa a dançar ela parece querer se desenraizar, ganhar liberdade; mas o vento pára e ela volta à sua imobilidade; até que então ela ganha um novo estímulo e começa a dançar novamente almejando maior movimento.

Suas folhas são como um manto verde que a cobre por completo, apenas os pontos vermelhos de seus frutos podem ser visto. Essa sua veste lhe dá um ar de elegância, o que me chama bastante atenção, já que ela deveria ser como as outras árvores; mas ela é diferente. A parte superior de sua copa é quase bem definida, como uma bola de sorvete. Algumas folhas de tonalidade clara aparecem na parte mais exterior da folhagem, essas são as que mais despontam para fora do limite (o da poda) e dão à vestimenta um “design moderno e sofisticado”. Seus frutos estão sempre agrupados entre si, como um pequeno emaranhado vermelho, o que me possibilita vê-los; eles são como pequenos enfeites de natal, se destacam no meio desse mundo de folhas. Sua capa verde se prolonga até o chão, desce afunilada em volta do tronco ocultando-o dos meus olhos, mas não da minha imaginação.

Apesar desse seu traje elegante, ela é solitária. Está localizada em um quadrado limitado por uma cerca viva, um pequeno espaço onde ninguém pisa, é o espaço da árvore. Ela tem este privilégio que muitas outras não têm, um espaço só dela (será por isso que ela é tão bela?). Ela reina só neste espaço, só ganha companhia quando um jardineiro vem ajustar suas vestes, mas, fora isso, ela brilha no meio da solidão, mesmo quando ninguém percebe seu brilho. Ela passa o dia inteiro dançando ao som do vento, irradiando beleza através de seus movimentos curtos e rápidos, mas sua platéia não a percebe e muitas vezes a ignora.

Suas folhas, seus galhos, seu tronco, sua raiz, tudo isso a faz ser o que é; esse conjunto forma um ser diferente e único que suaviza a desgraça dos homens através da simplicidade do seu ser. Um ser que me causa inveja, pois ela é indiferente a tudo em sua volta, nada lhe ofusca o brilho, nada lhe aborrece (mesmo porque ela é um ser desprovido de consciência).

Sua única função é ficar plantada naquele lugar, mas se ela não existisse o mundo seria diferente, ou talvez um outro ser realizaria sua função; se fosse isso verdade, ela não teria sentido, não significaria nada. Mas, ela está ali realizando sua função, não se importando com questões impertinentes à sua existência (mas nós, infelizmente, gastamos tempo com questões como essa). Na verdade, mesmo se ela pudesse se “descabelar” com indagações assim, sua beleza não mudaria: ela não deixaria de ter suas folhas verdes lustrosas, não deixaria de estar elegante não importando o dia ou a hora, não deixaria de balançar ao ritmo do vento. Esta linda planta está sempre do jeito que deveria estar, nunca mais ou menos bonita.

Tranqüilamente ela passa o dia todo dançando, esperando chegar o próximo dia, e assim ela nunca descansa, estará sempre a esperar o dia seguinte, mexendo suas folhas num ritmo lento, às vezes mais rápido e movimentos curtos. Todos os dias poderei olhar pela janela e contemplá-la com todo o seu movimento envolvente, decifrando-me o ritmo do vento.

Um comentário:

  1. Belíssimo! Jairo.

    “Todos os dias poderei olhar pela janela e contemplá-la com todo o seu movimento envolvente, decifrando-me o ritmo do vento”. Ela esta lá. Não está só... Você a observa. Anônimo. Outros também vão se encantar com sua beleza. Tudo tem sua razão de ser. Tudo!

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