
Olhar, ver, desvendar, deslumbrar, contemplar. Substantivos que nos fazem logo lembrar a visão, ou, antes, os olhos. Viver é, essencialmente, sentir o mundo. A visão é mais do que um modo de sentir o mundo, é um meio de descobri-lo. Aos nossos olhos o mundo se desvenda. A beleza se faz frente o nosso olhar, muitas vezes, desatento. Os jogos de imagens, de cores, de sensações visíveis são sempre fabulosos. Encantamo-nos com a visão que temos do mundo.
É a visão, também, responsável pela poesia que, às vezes, sentimos. Quando ficamos extasiados perante uma visão, quando admiramos com euforia uma paisagem, quando algo que vemos nos tira o fôlego e nos faz esquecer tudo por um breve instante, estamos apreendendo-lhe a poesia. Nossos olhos são capazes de captar a poesia em um simples olhar, num olhar mesmo que desatento. Mas a poesia é fugidia. Ela escapa fácil e não nos deixa capturá-la. Assim, nossos olhos se cansam, pois a poesia não mais está ali onde miramos. Esse instante pode ser um breve segundo, mas também pode se estender por longas horas; e isso depende de nossa disposição em apreender a poesia.
Sentir o mundo é algo exaustivo. Depende de separarmos tudo o que pode causar dano à beleza. A poesia está aí, na ausência da destruição, na inocente visão do mundo, no desejo. Ver a poesia do mundo é tornar-se poeta, mesmo que não exteriorizemos essa poesia nas palavras, é sentir lá no fundo que o mundo pode ser diferente.
São os olhos as janelas da nossa alma. Onde é a porta, não sei; mas é pela janela que, primordialmente, vemos o mundo. Pela janela podemos perceber as coisas sem necessariamente manter contato com elas. Ela nos protege do mundo. Ela nos permite apreender maravilhosas poesias sem o perigo de a influenciarmos.
Ver é um modo de sentir o mundo sem modificá-lo. É como apreendemos a vida sem deixar marcas, somente aquelas que se fazem em nós mesmos. A visão possui várias perspectivas, é aí que está a efemeridade da poesia. Cada momento que nos detemos em apreender a poesia da visão, capturamos um aspecto infinitamente menor que o todo. A cada instante uma parte se nos mostra e, aos poucos, vamos adquirindo a noção do todo, sem nunca chegarmos à completude dele. Ver é uma arte que nos ensina a viver; é uma arte incompleta, que vai se fazendo a cada olhar, mas nunca se esgota.
Os olhos são da janela alma.
ResponderExcluirAdorei o texto.
Mesmo que eu não seja poeta, nem tenha nenhuma
pretensão de ser. Acredito que o mundo
pode ser diferente. Poesia, pra mim, é falar ao mundo
sobre os sentimentos. E o que seriam deles sem o olhar, não somente
a visão, mas o olhar aguçado, que capta não somente as aparências, mas
o que está encoberto.
Sentimentos mais nobres, que jamais, deveriam ficar escondidos