sexta-feira, 31 de outubro de 2008

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Todos sabemos o quão difícil e árdua é a atividade de escrever. Mas, mesmo sendo pesada, não sei se esse adjetivo é o melhor pra descrevê-la, não conseguimos, pelo menos não eu, parar de praticá-la. É quase um vício. Não sei vocês, mas eu, quando escrevo, passo por momentos fantásticos, quando minha mente me leva a lugares tão, tão distantes e, ao mesmo tempo, tão familiares. Não sei se são lugares ou estados de (in)consciência; são bem parecidos com os sonhos, você sabe onde é, mas não consegue se apropriar dele, não consegue vê-lo ou mesmo descrevê-lo e, no final da viagem, já de volta ao lar, só lhe fica uma leve impressão dele. Sei que é uma imagem um tanto exagerada a que aqui lhes trago. Mas, pensem comigo, de onde tiramos essas palavras que nossos dedos, com tanta propriedade, escrevem no papel (ou na tela...)?? É claro que não podemos dizer que tudo vem da inspiração... Aliás, o que é a inspiração??

É uma pergunta interessante. A inspiração é aquil0 que, quando estávamos na escola, dizíamos que nos fazia escrever. Se na hora da redação o papel continuasse virgem, era a inspiração que nos faltava no momento. Fico imaginando os famosos escritores, Machado de Assis (pra citá-lo num ano especial), Érico Veríssimo, José Saramago, Paulo Coelho (pra não ficar só nos bons), clamando a um ser divino (como as musas gregas) para que ele lhes encha de sabedoria e lhes mostre as letras (Chico Xavier fazia isso...). Não, não foi assim.

Inspiração, podemos dizer, é aquele momento eureka que temos muitas vezes. Não sei como funciona nossa mente, mas sei que às vezes as idéias nos saem como em mananciais eternos, outras vezes como em bicas lá do nordeste, há vezes ainda em que nos vem um jato de idéias que não sabemos dondevem, prondevai... Podemos ter vários momentos eureka em nossa atividade de escrita. E, acredito, são esses momentos a que chamamos inspiração. Ocorrem quando passamos por uma situação, ou quando lemos um texto ou vemos alguma imagem. Várias ocasiões nos levam a um momento eureka.

Mas além da inspiração, como dizia antes de cair, inevitavelmente, nesse assunto, o que nos trás as palavras às pontas dos dedos é a nossa memória de leitura. Na verdade, quando escrevemos, fazemos download (uma metáfora bem interessante, não??) de tudo o que já lemos. É claro que nem tudo nos aparece como em uma tela preto-n0-branco. Aos poucos as idéias nos vão sendo aclaradas, as palavras nos chegam mais perto, os enunciados nos vêm como na primeira vez (não da mesma forma, óbvio). É nossa memória de leitura nos permite escrever. E é justamente por causa dessa memória que temos nossos momentos eureka.

Mas onde fica aquele mundo fantástico pra onde nos transportamos?? Na imaginação desse que vos escreve. Na verdade, esse mundo está na leitura. Ao escrever votamos aos nossos momentos de leitura. Nos enveredamos pelas redes que construimos com as nossas leituras. Esse é o mundo da escrita. Diferente, como a imagem espelhada do mundo da leitura. Por isso, é preciso dizer, antes de escritor, leitor é preciso ser... (me desculpem a ousadia... eu sei que ficou péssimo...) Não existem textos prontos e acabados em si mesmos. Todo texto começo em um texto que lhe é anterior e termina em um que lhe sucederá. Não em um só, mas em vários. Os textos fazem parte de uma grande rede que vem se fazendo a milhares e milhares de anos e que se continuará a fazer até o fim (entenda o que quiser desse "fim").

Acredito que já lhe tomei tempo bastante. Não foi minha intenção te prender nessas linhas (mentira!). Mas se você chegou até aqui, não se importará de me acompanhar em mais algumas breves palavras. Breves, sim. Elas são tão fugidias. Aí é que se encontra a maior dificuldade de escritor, prender as palavras no texto. Mas as palavras não devem ser presas, elas têm que vir ao texto de bom grado. E quem as trás não é o escritor, e sim o leitor. Por isso, um texto que não é lido nunca foi um texto. Então, leitor (não sou Machado, mas posso falar contigo também... hehe), agradeço por dar vida ao meu texto. Poderia agradecer também em nome do próprio texto, mas ele não existe pra mim do mesmo modo como se mostra a você, por isso, tente ser agradável com ele. Mais efêmero que uma palavra isolada é o sentido que várias delas, juntas, nos trazem.

3 comentários:

  1. Eu sempre tive vontade de saber de onde vinha a inspiração!
    Como os grandes poetas conseguiam resgatar do fundo da alma.. As palavras mais simples e belas.
    Indaguei tantas vezes. Obrigada por responder!!

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  2. Naum trago respostas... mas pensamentos que me voam a todo instante... naum quero acabar com a ilusão dos que sonham... mas vemos o quão brilhantes e fantásticos são nossos queridos escritores... é elevarmos ainda mais quando pensamos que deles mesmos, de suas mentes brilhantes vem a inspiração...

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  3. Escrever é um exercício de continuação da história humana, do pensamento, do raciocínio iniciado em algum momento... uma verdade sem dúvida cara...

    Muito bom texto...

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