sábado, 5 de novembro de 2011

Ego


Não se pode chegar a dizer que se conhece bem. Nunca se chegará ao pleno conhecimento de si mesmo. Jamais haverá alguém que saiba dizer o que, de fato, é. Ser implica não saber. Se, acaso, se sabe, não se é. O que já Alberto Caeiro vivia: só se é ao simples feito de ser e nada mais. Não há o que buscar, não há o que questionar, não há o que entender. Ser vale por si só.

Mas, então, o que buscamos, insistentemente, entender? Se não podemos saber a nós mesmos, tudo o que procuramos conhecer é em vão. É vão. A nossa existência é vã. Nós somos vãos. Tudo é vaidade. Por isso simplesmente ser. Carpe diem.

Nossa razão é, deve sempre ser, talvez, nossa esfinge. Devemos temê-la, não fazer-nos maior que ela. Se a razão de nossa existência é simplesmente ser, somos nós mesmos a nossa razão. Assim, devemos temer a nós mesmos. O medo. Quem sabe assim paramos de tentar chegar aonde não devemos.

Se somos e temos medo de ser, ou de chegar a saber o que somos, sendo nós nosso próprio medo, eis aqui nossa essência: tudo o que somos não tem outro motivo ou motivação que o simples fato de poder ser. Isso deve-nos bastar. Tentar ir além do ser é ir além de nós mesmos. É romper, violar nossa liberdade. É aprisionarmo-nos num labirinto de nós mesmos. É perder-nos em nossa essência. É ser sem poder ser.

E, então, contrariamente, contrariadamente obstinados, viveremos a incansável busca de nós mesmos.

Não podemos interromper esse ciclo. Nós, a linguagem. Uma roda que não para de girar sem mesmo haver começado seu movimento. Assim somos, seremos, fomos. Fora do tempo e do espaço. Sem certeza de alguma coisa. Ser hipótese.

E, por isso, a questão, a dúvida, a incompreensão, a incógnita:

Ser?

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