segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Na Rede

Texto produzido como avaliação final da disciplina Revisão e Editoração de Textos em Ambientes de Tecnologia Digital, PUC Minas, campus São Gabriel.



O desenvolvimento tecnológico atinge e influencia diretamente os meios de comunicação. A produção e a leitura de textos tomou uma configuração diferente daquela que vigorava há uma década. Hoje é crescente e abundante a circulação de textos em ambientes de tecnologia digital. Essa nova tecnologia é uma das principais responsáveis pela mudança dos paradigmas textuais. É claro que com o tempo tudo se modifica, os leitores, os autores, os temas de discussão, os modos de dizer etc. Mas uma mudança no suporte do texto causa uma revolução consideravelmente relevante e importante.

O suporte tecnológico possibilita ao texto incorporar vários tipos de semioses, além da referência pela palavra. A inserção de imagens, sons e vídeos nos textos que circulam pela Internet, ferramenta que facilita não só a circulação mas o acesso à comunicação, é bastante comum. Um texto produzido em ambientes digitais possibilitam ainda o acesso a outros textos; os textos que circulam na rede da Internet estão interconectados e interligados através de links. Essa conexão possibilita que um leitor “navegue” de um texto para outro em segundos, permitindo o acesso fácil e rápido à informação desejada.

Essa flexibilidade dos textos que circulam em ambientes digitais (hipertextos) é o grande diferencial do suporte atual. É nesse suporte que temos a possibilidade de inserir em nosso texto ferramentas que ajudaram o leitor a se aproximar daquilo que busca, ou daquilo que lhe interessa. Podemos dizer, assim, que a produção textual ganhou novas perspectivas. Não que hoje produzamos diferentemente de como produziam na década passada (a ciência ainda não descobriu um modo de construir uma inteligência artificial), mas hoje os editores de textos nos permitem produzir um texto não só com palavras, mas com imagens, vídeos, sons e ainda que incorporemos nosso texto em uma rede de textos que circulam livremente e sem custos.

Se a produção mudou, a recepção não continua a mesma. Os leitores de hipertextos já lêem esperando certo padrão que condiga com os modos de produção textual de um ambiente digital. A leitura se faz não em um texto único, mas através de um percurso que vai se criando através de vários textos. O leitor, ao se deparar com um link é como se estivesse andando pela rua e, então, chegasse em uma esquina. Ele tem dois caminhos a escolher, ou continua caminhando pela rua onde estava, ou vira a esquina e percorre por uma rua diferente. O que percebemos é que não há um destino pronto. Mas isso não é novidade. Mesmo na leitura de textos que circulam em livros e revistas impressos, não se podia dizer que tínhamos um destino certo a ser alcançado. Agora que estamos em um suporte muito mais flexível e sensível a interferências do leitor, nos deparamos com uma viagem sem destino certo e sem uma trilha definida. Os caminhos são feitos e escolhidos pelo viajante, o leitor. Assim, no hipertexto, ele se aproxima bem mais de uma co-autoria que o leitor de um texto impresso.

Falamos de autoria. Um texto impresso já trazia em si esse aspecto de co-autoria do leitor, o hipertexto, então, vai enfatizá-lo. Para um autor, seu texto sempre será construído com leitura de outrem. Agora para o leitor do hipertexto fica mais claro sua participação ativa na construção de sentido de um texto. Digo de um texto, pois entendo que a grande rede é constituída como um grande texto que tem seus capítulos espalhados por toda parte; seus capítulos, ao mesmo tempo que se relacionam um com o outro, não constituem uma cadeia sistemática, mas formam uma grande rede de leitura. Assim, o papel do leitor em ambientes digitais não necessariamente se modificou, mas foi enfatizado pelo suporte do texto.

Os hipertextos incorporam em si vozes diversas que ajudam a compor o texto. Como, então, podemos perceber essa heterogeneidade de vozes e um texto? Isso só um bom leitor poderá entender. Um hipertexto não faz tanto caso para o reconhecimento de autoria, antes, se preocupa em propagar a informação e fazê-la circular livremente. O gerenciamento de vozes existe, claro, mas o que digo é que não há, hoje, tanta preocupação como havia antes com o autor do texto. Podemos conferir isso quando navegamos pela Internet em busca de alguma informação. Não nos preocupamos em saber quem assina tal texto, mas se ele está consoante àqueles que lemos há cinco minutos. Há, entretanto, uma ferramenta muito útil ao gerenciamento de vozes: o link. Através do link o leitor tem acesso aos textos que fazem parte da rede na qual está inserido o texto que lê. Assim, ele tem acesso à voz que iniciou a discussão do tema nesse texto.

O estudo do hipertexto me ajudou a compreender o funcionamento de ambientes digitais. Apesar de poder adquirir tal conhecimento através do acesso direto à prática, a reflexão se fez muito pertinente à minha aquisição. É um estudo, como qualquer um, que não tem fim. Há sempre novidades que surgem e nos fazem voltar às reflexões iniciais. Nessas viagens às reflexões anteriores, muitas vezes, descobrimos que esse novo aspecto que surge já era esperado. Por isso, se faz muito relevante o estudo do hipertexto. Ainda há muito a ser estudado, há muito no que pensar. Não espero chegar numa resposta certa, antes, prefiro navegar pela rede de estudos, construindo meu próprio caminho e minha rede de leituras.

2 comentários:

  1. O texto na web traz consigo uma espécie de conhecimento ilimitado. Com os hiperlinks você vai navegando numa rede que interconecta com outras redes. Redimensionando o conhecimento e as possibilidades da construção textual.

    Adorei o tema...

    Ps: A questão do direito autoral é um problema. Mas é muito bom poder escrever e saber o que os leitores estão achando. Interagir, trocar idéias.

    É muito bom passar por esta rede de leitura.

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  2. Há alguns anos atrás Negroponte já dizia que futuramente os átomos seriam gradativamente substituídos pelos bits.
    Pois é, as profecias tornaram-se realidade. O mundo ficou pequeno, devido à velocidade com que as informações são transmitidas. Computadores conectados em rede encurtam distâncias e fazem ganhar tempo. A informação transita por uma rede digital, armazenada em algum lugar, mas disponível em qualquer lugar e em qualquer momento. E é ai que eu acho muito interessante a sua reflexão, afinal, no fim seremos todos uns leitores da rede, nessa grande rede de leituras.

    Parabéns pelo texto!

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